terça-feira, 8 de novembro de 2011

EDIÇÕES CAIÇARAS - São Vicente Brasil

A Edições Caiçaras é uma pequena editora independente artesanal inspirada nas cartoneras da América Latina, principalmente na Sereia Cantadora de Santos e na Dulcinéia Catadora de São Paulo. Nasceu pela dificuldade homérica e labiríntica em publicar meus livros em uma editora convencional. É uma forma de reavivar o ideal punk do “faça você mesmo”, incentivando a auto-gestão e o uso da habilidade manual , uma coisa que está se perdendo em nossa sociedade tecnocrata. Em diálogos com os escritores Marcelo Ariel e Alessandro Atanes, editores da revista eletrônica Pausa, comentei da minha urgência e vontade de lançar outros autores e desvincular o projeto de um viés personalista. E sugeri a Marcelo Ariel que organizasse um livro para a editora a partir de seus artigos sobre poesia brasileira na Pausa, assim, de fato, começa a tomar forma a filosofia da Edições Caiçara, mais do que um caráter social, nos interessa,ousar na forma e no conteúdo. Na forma é um aprimoramento das técnicas das cartoneras - os livros são feitos com capa dura, costurados com sisal e presos com detalhes em bambu, e no conteúdo, priorizamos um diálogo profundo com a Internet e com as literaturas locais do Brasil.

Os livros podem ser adquiridos nos lançamentos. Os primeiros lançamentos serão em Santos, São Paulo e Região, priorizando sempre pequenas livrarias de rua, museus e espaços culturais alternativos. Após estes, os livros poderão ser adquiridos pelo e-mail mb-4@ig.com.br ou pelos telefones 13-34674387 e 13-91746212.


Catálogo Comentado


O Novo em Folha (poesia) – Márcio Barreto


“Pode-se ler O novo em folha, de Márcio Barreto, como parte de um todo maior relacionado à Arte Contemporânea Caiçara, proposta que relaciona imagens, palavras e sonoridades numa ótica que mescla fontes da literatura, música e filosofia, sustentando o diálogo entre o ancestral e o contemporâneo. Também é possível ler cada volume como uma manifestação artística dentro das experiências no Brasil e no exterior de realizar obras únicas com capas feitas à mão e com material reciclado. Ressalta-se assim o valor do artífice na construção de cada livro que chega às nossas mãos. No entanto, talvez o mais fascinante esteja em deixar um pouco de lado esses dois fatores e mergulhar numa poesia que tem como principal característica justamente uma provocação permanente. As palavras se articulam para gerar indagações constantes no sentido de não aceitar saberes instituídos, estabelecendo dúvidas. O poema”Quando o mar” (“Vivamos/Que a vida passa/Célere como a onda// Que faz do recuo seu avanço”) encerra, por exemplo, uma poesia que traz o novo em folhas de papel, mas amparado por uma concepção da realidade que se propõe a sempre oferecer surpresas.

(Oscar D’Ambrosio) - doutorando em Educação, Arte e História da Cultura na Universidade Mackenzie, é mestre em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da Unesp. Integra a Associação Internacional de Críticos de Arte (AICA-Seção Brasil).



Atro Coração (Dramaturgia) – Márcio Barreto

“Um retrato do amor que mistura os textos Romeu e Julieta e Otelo (Shakespeare), Lua na Sarjeta (David Goodis) e partes dos filmes O Colecionador (baseado na obra de John Fowles) e Cenas de um Casamento (Ingmar Bergman). Assim é Atro Coração, peça escrita por Márcio Barreto que coloca dois personagens míticos em uma situação limite: Lilith após ser expulsa do paraíso invade os sonhos do anjo Gabriel e o seduz. Para puní-los Deus os lança à Terra como homem e mulher. Destituídos de suas memórias vagam separados até que o acaso os une novamente. De um lado o amor não correspondido, do outro o amor que nasce do medo da morte. Uma peça que discute os limites do amor através das relações de medo, desejo, sonho, posse, loucura e realidade. Uma história que nos faz pensar que não importa o que é o amor, mas o que fazemos com ele.”


(O Autor)


Nietszche ou do que é feito o arco dos violinos (poesia) - Márcio Barreto

"A loucura, não em seu contexto patológico, mas como um campo propício para novas inspirações e idéias, onde valores e costumes são facilmente rompidos e a genialidade e a sabedoria misturam-se com universos muita vezes desconhecidos. Nietzsche, importante filósofo alemão do sec. XIX, possuía grande paixão pela música, como vemos em O Nascimento da Tragédia no Espírito da Música (1872), O Caso Wagner, um Problema para Músicos (maio-agosto 1888) e Nietzsche contra Wagner (dezembro 1888). De certo modo, a filosofia encontra na música um riquíssimo campo para reflexão. Poderíamos comparar, como faz a física quântica, a gênese do universo às cordas do violino quando vibram tocadas pelo arco. Parece loucura, mas acredita-se que as menores partes do universo agem assim, vibrando e criando a sua volta. Nietzsche enlouqueceu em janeiro de 1889, em Turim, quando seus olhos enevoados pela miopia se chocaram com o espancamento de um cavalo. Aos prantos deixou-se ficar abraçado comovido com seu sofrimento. Nunca mais esteve lúcido. O arco do violino é feito da crina do cavalo; antes da loucura Nietzsche era veemente contra a compaixão."

( O Autor)


Lançamentos:

Pequena Cartografia da Poesia Brasileira Contemporânea – Marcelo Ariel (Org.)


"O mais interessante é que este livro é uma obra em processo, saber que ele , nasceu na internet e foi incorporado, aos processos artesanais de fabricação de livros,através da reciclagem de matérias, é uma coisa importante. O pensamento por trás da própria criação da rede há uma grande teia artesanal de compartilhamento e irradiação de informação e conhecimento. Este é para mim, o paradigma que deu origem, não só a idéia deste livro, isto está no cerne das questões da poética contemporânea. Quem ler o livro, perceberá isso, é uma espécie de viagem até os poemas, o livro está conectado a um site e o site por sua vez, é ele mesmo, uma obra do artesanato mental. Não explico muita coisa, mas ao abrir o livro, as coisas podem ficar mais nítidas e menos enevoadas. Se produz poesia de qualidade nos dias de hoje e isso passa ao largo do chamado mercado editorial, mas não é ignorado pelas revistas eletrônicas de cultura, que cada uma delas se torne um livro, é uma idéia interessante, que espero, ajudar a disseminar com esta edição artesanal de textos e poemas anteriormente publicados no blog-revista."


(Marcelo Ariel)

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